segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Escola Nacional Florestan Fernandes


No município de Guararema, a 40 minutos da capital paulista, ergue-se uma das experiências mais revolucionárias das classes populares da América Latina. A Escola Nacional Florestan Fernandes, construída com o trabalho colaborativo dos trabalhadores e trabalhadores Sem Terra, é um centro de formação de quadros políticos que torna concreto os ideais gramscinianos de formação dos intelectuais orgânicos.
O terreno foi adquirido a partir das doações dos direitos autorais da obra “Terra” de Chico Buarque, Sebastião Salgado e José Saramago. Nesta área há alojamentos, salas de aula, refeitório, auditórios e biblioteca construídos com tijolos fabricados pelos próprios integrantes do Movimento dos Sem Terra (MST). Periodicamente, são oferecidos cursos para militantes do MST e de outras organizações companheiras.
A escola foi inaugurada em janeiro de 2003 e atualmente oferece tres formações: frente de massas, para os quadros que organizam a luta cotidiana nos assentamentos e acampamentos; comunicação e cultura e estudos políticos latino-americanos, para cerca de 100 jovens de 60 organizações provenientes de 18 países da América Latina.
A argentina Ana Musolino veio de Mendoza para participar do curso de estudos latino-americanos e se encantou com estrutura da escola e com a troca de experiências pois, aos sábados, os jovens são encarregados de fazer uma noite dedicada à cultura de cada país. “Além dos estudos, é uma grande oportunidade de conhecer culturas, comidas e modos de falar”, conta Ana.
O clima de latino-americanismo está presente em todas as paredes e espaços e nas publicações dos trabalhos. Há, por exemplo, um mural para análise da cobertura da imprensa com recortes de jornais. Abaixo do refeitório, um espaço de convívio traz reproduções das obras de Diego Rivera. Nas salas, imagens e idéias de vários lutadores latino-americanos.
Para cada espaço, o nome de um lutador Cada sala da ENFF recebeu o nome de um lutador das classes populares da América Latina. Recentemente foi inaugurado o auditório Patativa do Assaré, poeta brasileiro cuja obra guarda muita identificação com a luta cotidiana do MST.
Na biblioteca há uma estante com exemplares de todas as obras do escritor uruguaio Eduardo Galeano, doadas por ele mesmo para a escola. As bibliotecas do MST (a da ENFF e dos assentamentos e acampamentos) estão recebendo doaçoes. Clique aqui para saber como participar e doar.
Nas salas de aula, a concentração e a alegria são grandes. As aulas duram o dia todo e, além dos estudos, os participantes se revezam na autogestão da escola. Divididos em brigadas, organizam a limpeza, as refeiçoes e a segurança da ENFF. Uma das brigadas fixas é a Apolônio de Carvalho e nela os assentados se revezam periodicamente nas tarefas.
Como a ENFF forma quadros do movimento, os assentados entendem que é preciso colaborar com o crescimento dela. Por isso, eles saem de seus assentamentos nos diversos estados brasileiros e passam um tempo na escola. Foi assim durante a construção e segue nas tarefas de comunicaçao e organização desta experiência que coloca as classes populares como agente da história.


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